Eu me organizo pra me desorganizar.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Marat/Sade: Loucura, sangue e revolução

17 de setembro de 2012. Após quase 4 meses de greve nas Universidades e Institutos Federais do Brasil, os servidores e alunos retomam suas atividades. Estava precisando respirar novamente os ares das aulas de teatro no "Cefet". É uma necessidade criar e é uma alegria compartilhar a criação coletiva com homens e mulheres que erguem o fazer teatral.

Depois de uma aula sobre dramaturgia e a maravilhosa leitura da farsa do advogado Panthelin, fomos para a aula de interpretação II. Dividimo-nos em grupos de 3 ou 4 atores, onde o objetivo era irmos à biblioteca e cada um escolher uma cena de um texto teatral de qualquer gênero. A minha escolha foi Marat/Sade do Peter Weiss.

O Marquês de Sade sempre me fascinou com sua filosofia contundente, permeada de eroticidade e desejo, o que lhe custou longos doze anos no Hospício de Chareton. Além disso, Jean-Paul Marat, um dos grandes arguidores da Revolução Francesa, teve um papel fundamental para a história daquele povo. Temos então uma tragédia da revolução que aborda a loucura e a representação desta loucura dentro de um Hospício. Temos então uma espécie de metateatro. A burguesia parisiense era sedenta em ver esse tipo de teatro que provocava, naturalmente, uma experiência 'exótica'. Um teatro de loucos, feito dentro de um Hospício, sendo dirigido por Sade; um homem acusado de pornografias e atos libidinosos. Como pano de fundo tem-se uma sociedade cuja guilhotina laminava a população, causando sangue e horror.

O nome da obra é quilométrico: A Perseguição e Assassinato de Jean-Paul Marat encenado pelos internos do Hospício de Charenton sob direção do Senhor de Sade. Quase sempre abreviado para Marat/Sade. Foi escrita em 1963 e no Brasil, encenada pela primeira vez por Ademar Guerra, tendo no elenco Eugenio Kusnet, Irina Grecco, Rubens Côrrea, Armando Bógus, Aracy Balabanian, entre outros. Em 65, o diretor inglês Peter Brook também monta a peça na Royal Shakespeare Company e difundi o texto mundialmente com sua encenação calcada nos postulados do Teatro da crueldade e na sua visão do 'espaço vazio'. Um texto denso, subversivo, sangrento. E há de fato, indícios que apontam Sade como o homem que dirigia peças com os enfermos dentro da Instituição.

A cena que escolhi foi a de Marat chamando Simonne - sua esposa - para lhe dar mais água fria na banheira. Marat sofria de doenças cutâneas,escrófulas. Para amenizar seus efeitos, passava horas e horas dentro de uma banheira. Ele reclamava de muitas dores e sempre nos diálogos há intervenções sobre a revolução. Revolução de si mesmo, do mundo, de quem? E há também discussões nas entrelinhas da dramaturgia sobre o tratamento que se dava à loucura dentro dos manicômios. Um texto farto e repleto de imagens cuja teatralidade evidenciam Weiss como o novo Brecht e um dos grandes dramaturgos do século XX. Depois da peça de Weiss, Brook também dirigiu o filme

,que ainda estou por ver. Acredito que vale a pena. Na foto, Marat e Sade.

Depois, ao me reunir com os outros integrantes, vi que eles haviam escolhido textos do Nelson Rodrigues e do escritor cearense Eduardo Campos. Agora, só nos resta costurar os textos e pesquisar as implicações dramáticas, criar as cenas, os signos, enfim. O retorno às aulas foi muito bom! E o cenário carioca-cearense-alemão trazem à tona temáticas semelhantes e universais, como a morte, a loucura e a corrupção. Vamos ver no que vai dar.

Foram consultados: Marat/Sade (Peter Weiss) e Corpo e espaço na obra de Peter Brok: Marat/Sade e os limites da representação (Gabriela Monteiro).