Eu me organizo pra me desorganizar.

domingo, 6 de maio de 2012

Afrodites e Helenas

Profusão que se espalha numa saudade que brota aos poucos. Afrodites perdidas ao longo do tempo e que somem feito aqueles ninjas de filmes japoneses e por isso vez ou outra o coração entra em descompasso e a gente fica um pouco perdido. É abrir margem para construir uma mitologia própria. Uma história que se repete e se difere. Essas afrodites têm o poder de seduzir, mas não é só isso. Elas também são como Helenas, aquelas mulheres bem fortes e à frente de seus tempos. Enfim, a figura da mulher é essencial ao mundo. E mais que isso, acalenta em seus seios a maternidade e como o sopro divino, dá luz à vida. Ao mesmo tempo, elas podem sumir do mapa, podem descartar cartografias e virar o mundo pelo avesso. Podem morrer fisicamente e deixar-nos sem chão. Sem superficie. Mulheres são como mães do universo, são signos, e são sempre, mulheres.

Lá estava eu. Eu estava lá. Estava. Lá. Enrosquei, aticei, dobrei, encurvei, virei, olhei, enxerguei. Enxerguei aquilo que já via e debrucei-me sem diletantismo. A taça derramava espumas de vento. O brinde sempre me foi algo distante, porém ele sempre apareceu e, mesmo que efêmero, ascendeu marcas e fagulhou chamas. Estratificou espessuras de espuma. De bruma, de brancura, de brandura. Eu sempre estive lá. Lá, é um lugar doce, é quase o meu lar, doce lar. Lá é um lar e o lar é lá. Ladainhas a parte, o lá é um lugar que me deixa bem e tranquilo, suspirando feito corpo trêmulo após uma transa. Ofegando. Eu gosto de lá, de estar lá. Vamos pra lá? Um cantinho pequeno que se apresenta gigante e que a gente pode confiar. Pode-se projetar. Cada um tem um la(r) dentro de si. Basta nutrir-se do que é inteiro, mesmo que seja metade.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Gandaia

Foi no acorde do acordar que soou a primeira nota do dia. Como música. Como melodia. Uma leve sensação de ser criança. Correndo por dentro feito algo que voa, correndo que nem o bando da molecada de quando era pequeno. Sim, é preciso correr, gandaiar. Gandaiar feito menino e correr tão velozmente até os pés baterem na bunda. Numa carreira distante, trepidante. Chegar na praia foi alegria só. De vez em quando fitava o olhar para o mar mergulhando em mim mesmo e em cortejos de imagens que sondam meu passado-presente-futuro. O negócio é que quando a gente se enrosca nas ondas, a gente fica tonto feito peão jogado no terreiro. Fica querendo voar sem ter asa. E beber na sede que sacia a irrefutável alegria do cotidiano. Reinventando o cotidiano e cobrindo-lhe de novas conjecturas, novos acontecimentos. Daí, é fácil olhar pra o céu e ver as nuvens garimpadas em estufas que se desdobram quase a um palmo da mão. Como algodão doce que gruda nas mãos. Correr para os braços do mar. Do mar, de tudo que é límpido. Gandaiar em risos, passear em campos de papoulas. Passear sobre cada segundo do que a gente chama de... felicidade. E gandaiar, pra que a vida dê lugar ao novo e encontre novos sentidos.